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sábado, 26 de maio de 2018

A banalização da vida – A indiferença! Quanto custa um filho diante da justiça?



Essa é uma reflexão, nada mais do que isso, de quem viu seus dias serem transformados num mar de angústia, causada por buscas incessantes de um filho, que afetado por uma doença, afasta-se cada vez mais de seus familiares e amigos, na tentativa desesperada de fugir da perseguição das vozes e que construiu um mundo alheio aos riscos e à chamada “realidade normal” dos outros seres humanos.

Diante de tal realidade, essa pobre criatura, meu filho amado, faminto e cansado, acostou-se diante de um restaurante onde alguém, em sua generosidade, lhe deu uma marmita, que seria seu alimento, não fosse a intervenção da polícia Militar.

Seu erro, seu pecado, seu crime inicial – dizer que não ia se identificar a um falso policial – falso, na concepção do seu universo, porque a polícia existe para proteger os cidadãos e não para importuná-los, quando estão fazendo sua refeição, num espaço público. A situação piorou. Desacato.

Um crime que  levou esse meu filho que estava desaparecido, e aparentemente  morto, a ser visto por mim, a quase encontrar-se comigo, pois a Polícia Civil de Curitibanos/SC cumpriu seu papel.   Diante de um incapaz, percebido pelas palavras cultas e pelo discurso desconexo que fazia, não foi difícil  inferir, lançou mão das tecnologias e encontrou a família, que há cerca de 13 anos o procurava, para ajuda-lo a tratar e a ter uma vida digna, como ele merece.

Mas no contexto da justiça, não vale a palavra de quem consciente de seu dever quer conectar as pessoas desaparecidas aos seus familiares!

Fico me perguntando, a cada nova tentativa em vão de encontrar o meu filho, o que levou uma pessoa como um promotor, a desautorizar qualquer ação que levasse o meu filho, um incapaz, um doente, que precisa de cuidados médicos, à assistência de sua família?

Quanto vale uma vida para quem adota medidas assim?  Quanto vale um filho?

Essa pessoa o condenou às ruas, ou melhor às BRs da vida, ou à morte, enquanto eu, sua mãe, estava ao telefone implorando que não o fizesse, pois eu sei o quanto já o havia procurado sem sucesso. 

Vi nesse ato, a esperança esvair-se, como que num ralo ou como a água a escorrer por entre os dedos.

Quanto vale uma vida? Quanto vale um filho para sua mãe? Quanto vale a justiça aplicada a um incapaz?

 A indiferença ao valor da vida, à capacidade de olhar o outro, de trabalhar pelo bem público e social leva a esse tipo de decisão. Aplica-se a lei sem o espírito da lei.

“Quando se atinge um alto grau de indiferença o resultado não pode ser outro senão medo, amor reprimido, sofrimento atroz, angústia, tristeza, arrependimento, culpa” etc.

A sensação que se tem é a de que, a capacidade do agente público em discernir os atos que pratica, se tornou nula ou comprometida por outros fatores inebriantes.

O olhar está claramente comprometido – um olhar inundado e dominado pelo ego. 

Percebo que a “normalidade”, a “humanidade”, não é captada por aqueles que só conseguem olhar para si mesmo, e que concentram seu olhar no poder que detém sobre os outros; que têm medo de levantar o olhar, pois se assim o fizerem, deparam-se com a grandeza do universo e o Poder do Deus Criador de todas as coisas. Isso os ameaça, pois, cada indivíduo que olha para cima vê-se a si mesmo insignificante, dependente do Criador, vê-se a si mesmo, como de fato somos todos nós – finitos.

Esses que não conseguem enxergar sua finitude, também não conseguem olhar para o outro, e, quando tentam assim fazer, adotam a atitude de quem olha para baixo.

Se olhar para baixo se defrontará com o outro ser , ou o único ser humano que consegue ver, tão humilhado, cujos “corpos”, provocam neles sentimentos de medo, angústia, nojo, indiferença ou revolta.

Conseguem imaginar que o outro ser vivo (não humano, posto que invisível para eles), é dissociado de sentimentos, de vínculo, de alguém que se interesse por ele.





Pensem bem!

Esse alguém, que está diante de vocês, não surgiu de um casulo, sem vinculo com a humanidade. 

Ele surgiu de um ventre que o ama e, no caso do meu filho, o Ozéas Junior, trata-se de um doente, que precisa de assistência à saúde e tem uma família ansiosa o procurando para suprir essas necessidades, a qual não foi ouvida, embora estivesse na linha telefônica clamando.

O que para a justiça desalmada, desespiritualizada, desumanizada não vale a atenção de uma análise mais acurada para a tomada de decisão, para a família, para a mãe – vale ouro, vale sacrifícios imensuráveis – pois onde está o elo mais fraco, o filho doente, aí está  concentrado o coração da mãe.

Atitudes irrefletidas como essas, egocêntricas e legalistas geram medo, dor, sofrimento, morte lenta. E, diz Frei Beto:

 "Se o medo perdura, a tortura se oficializa como recurso burocrático. Porém, o ideal não suporta a covardia e a morte jamais enterra aqueles que deram a vida pela vida". BETTO, Frei. A mosca azul: reflexão sobre o poder. Rio de Janeiro: Rocco, 2006. p. 25.

Reflitam...pensem!

Acima de todos nós há um Deus, criador de todas as coisas e que nos ama, sem acepção de pessoas. 

Esse que hoje é o meu filho incapaz, é aos olhos de Deus um filho amado e assistido, e aos meus olhos – Um filho amado e procurado.

Helena Souza de Oliveira
Uma mãe em busca de seu filho.

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